A Cidade Tiradentes é o maior complexo urbano da América Latina, com 40 mil residências, em sua maioria, construídas pela COAHB (Companhia Metropolitana de Habitação) e pelo CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo).
Localizada no extremo leste da Capital, no bairro não há a infra-estrutura para as necessidades básicas dos trabalhadores. Além disso, como praticamente não existem ofertas de emprego, o lugar se transformou em cidade dormitório.
Estima-se que a população seja de 220 mil habitantes, ‘dividida’ entre a Cidade Formal (constituída pelos conjuntos habitacionais) e a Informal (constituída por favelas e construções irregulares). A média salarial de um pai de família na Cidade Tiradentes fica entre R$500 e R$1200.
Foi nessa região que o oficial de justiça, Mario El Razi, servidor federal desde dezembro de 1991, atuou sozinho por seis anos. Ele conta que a grande maioria dos mandados que cumpria na região eram relacionados à reintegração de posse.
Não foram poucas as ocasiões em que cumpriu mais de cinco mandados em um mesmo condomínio. “Em uma das vezes o porteiro me alertou para que eu não errasse a porta do apartamento, pois ao lado havia uma célula do PCC”, disse.
No entanto, Mario revela um outro caso, em que ele ficou realmente assustado. Num dia qualquer o oficial estacionou seu carro em frente ao condomínio onde cumpriria o mandado. Entrou, se apresentou, cumpriu o mandado e não houve maiores problemas.
Quando saiu, viu um menino de uns 12 anos colando um bilhete no vidro de seu automóvel. Ao ler, o servidor empalideceu. Os dizeres: “Se você continuar vindo aqui, nós vamos até a sua casa!”, seguido de seu endereço, em Mogi das Cruzes, abalaram os nervos do oficial de justiça.
“Eu cheguei a segurar o menino pelo braço e perguntei quem havia mandado pregar o bilhete”, disse Mário. A resposta foi mais aterrorizante: “não sei moço, só mandaram eu colocar o bilhete, mas eles estão aqui, estão te vendo neste momento”.
Por ser o único oficial de justiça trabalhando naquela região e como essa situação perdurou por muito tempo, o servidor considera que acabou ficando visado. “Eu fiquei muito assustado, mas não mudei de endereço, porém meu filho agora mora com meu irmão”, disse.
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
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